Quem acha que crise política ou corrupção é só coisa de Brasil ou Venezuela está enganado. Tanto a crise política quanto a corrupção também batem às portas da igreja. O Tribunal Penal do Vaticano foi aberto neste mês de julho para investigar desvios de dinheiro do hospital de crianças do próprio
Vaticano. Giuseppe Profiti, ex-presidente da Fundação Bambino Gesù e o ex-tesoureiro Massimo Spina são acusados de desviar, entre 2013 e 2014, mais de 420 mil euros, o equivalente a mais de R$ 1,5 milhão. O dinheiro seria para o pagamento da reforma do apartamento do cardeal Tarcisio Bertone, ex-secretário de Estado da Santa Sé. Enquanto o Papa Francisco propõe uma igreja mais simples, muitos bispos e cardeais insistem na vida de luxo e privilégios.
Em 2015, o livro “Avarizia” (“Avareza”), do jornalista italiano Emiliano Fittipaldi, apontou denúncias de irregularidades na reforma do apartamento do cardeal Bertone e apresentou relatos sobre as finanças da Santa Sé.
Como se não bastasse, na última semana o “número três”, tesoureiro do Vaticano, Cardeal George Pell, foi ao tribunal da Austrália pela primeira vez sob a acusação de abuso de crianças. Ele ficou em silêncio durante a sessão e a defesa negou as acusações. A Igreja reafirmou total apoio ao cardeal.
Já no Brasil, um padre do Sul de Minas é suspeito de abusar sexualmente de uma jovem de 14 anos que era coroinha. Ele aparece em um vídeo deitado sobre a adolescente e beijando-a.
Ainda este ano, um padre, de 37 anos, foi preso em Santa Catarina por abusar de menores e permitir que fizessem consumo de bebidas alcoólicas.
A Igreja sempre se diz em favor da vida, mas pelo que parece não é contra ocultação de casos de pedofilia. Contraditoriamente, é contra o aborto sem ser contra a morte de crianças que poderiam ser assistidas com o dinheiro desviado para reforma de apartamento de luxo de cardeal. É certo que nem a corrupção nem os crimes de abuso são de exclusividade da igreja, mas parece ser mais difícil explicar como aqueles que propõem ser “escravos do céu” preferem servir voluntariamente ao inferno. Colocar fatos “debaixo do tapete” pode ter sido fácil para a igreja por muitos anos, o problema é que o poder da tecnologia, das redes sociais, da imprensa e até mesmo da Justiça nem sempre cabem num tapete só. E a igreja simples sonhada por Francisco vai ter que bater de frente aos egos inflamados e as mazelas do clero.
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